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Teco Barbero, o fotógrafo deficiente visual que “enxerga o mundo com os olhos da alma”

Marco Zero Conteúdo / 02/07/2025
A foto mostra um homem chamado Teco Barbero, que é deficiente visual, fotografando com uma câmera profissional em um ambiente ao ar livre, provavelmente um campo de futebol. Ele está de perfil, com o olho encostado no visor da câmera, em plena ação de registrar uma imagem. Teco veste uma camisa esportiva com as palavras “Comissão Técnica” nas costas e logos da Prefeitura de Sorocaba e outros patrocinadores. Ele usa boné azul, relógio digital e carrega a câmera presa por uma alça no pescoço. Ao fundo, outros homens também vestem uniformes semelhantes e parecem estar envolvidos em um evento esportivo. A imagem transmite concentração e quebra de estereótipos, mostrando uma pessoa com deficiência visual atuando como fotógrafo profissional.

Crédito: Instagram/@tecobarbero

por Elismarcia Tosta, Josyclaudia Gomes e Wander Vieira*

Antônio Walter Barbero, conhecido como Teco Barbero, nasceu em Sorocaba, no interior de São Paulo, e desde o início enfrentou desafios que moldariam sua trajetória de forma singular. Com uma lesão cerebral grave ao nascer, desenvolveu baixa visão e dificuldades motoras, o que exigiu um processo educativo e terapêutico adaptado desde a infância.

Ainda criança, iniciou um método inovador de estimulação chamado Pedaços de Inteligência, com sessões rápidas em que era exposto a imagens variadas, como pássaros, máquinas e borboletas, ajudando a expandir seu vocabulário e percepção do mundo. Essa experiência foi essencial para estimular seus sentidos e memória visual.

Foi em uma clínica no Rio de Janeiro que Teco se submeteu ao método Lindoma, voltado ao desenvolvimento do potencial humano. O processo o ajudou a conquistar marcos importantes, como andar, diferenciar claro e escuro e manipular objetos de forma independente.

Durante os anos 1990, quando ainda não existiam políticas inclusivas efetivas nas escolas, Teco contou com o apoio incondicional da família para progredir nos estudos. Sem acesso a tecnologias modernas, foi com esforço coletivo que conseguiu transpor as barreiras impostas pela deficiência.

Seu interesse por idiomas sempre foi marcante: é fluente em italiano, espanhol e inglês, além de possuir conhecimento básico em francês e alemão. Inicialmente pensou em cursar tradução, mas como essa opção não estava disponível em Sorocaba, optou pelo jornalismo com o apoio de educadores.

Teco cursou Jornalismo na Universidade de Sorocaba (Uniso) entre 2001 e 2004. Embora algumas disciplinas como fotografia e telejornalismo gerassem dúvidas sobre sua execução, ele enfrentou os desafios com coragem, curiosidade e criatividade.

O divisor de águas foi o filme Janela da Alma, que apresenta histórias de pessoas com deficiência visual, entre elas o fotógrafo Evgen Bavcar. Inspirado, o fotógrafo Werinton Kermes criou um curso de fotografia para cegos e convidou Teco a participar, marcando o início de sua jornada fotográfica.

Inicialmente cético, Teco aceitou o convite por incentivo de uma amiga. Ali começou sua transformação em fotógrafo. O curso promovia o uso do corpo, da audição e da intuição para guiar a câmera e enquadrar imagens, criando uma estética própria e sensível.

Em 2009, iniciou oficialmente sua atuação na fotografia. Um de seus primeiros grandes desafios foi cobrir a Agrishow em Ribeirão Preto, evento com a presença do governador do estado. O ambiente dinâmico exigiu agilidade e adaptação para conseguir capturar imagens relevantes.

Outro momento marcante foi o ensaio com cinco paratletas para os Jogos Paralímpicos. Com criatividade e sensibilidade, fotografou momentos únicos, mesmo sem roteiro e com recursos limitados. Uma dessas fotos foi parar na revista IstoÉ, ganhando repercussão nacional.

No curso pioneiro de fotografia para pessoas com deficiência visual, Teco aprendeu a usar diferentes sentidos para criar imagens: ouvir, tocar e sentir o ambiente. Desenvolveu um método para entender proporções, distâncias e movimentos com extrema precisão.

A barreira tecnológica da época era grande. Câmeras com visores pequenos dificultavam a visualização. O primeiro impacto positivo foi com uma câmera Mavica digital, que lhe permitia enxergar imagens de longe. A acessibilidade digital foi, aos poucos, transformando suas possibilidades.

Apesar dos avanços tecnológicos, Teco destaca que o maior obstáculo ainda é mental. A desconfiança das empresas e o preconceito visual afastam profissionais com deficiência das redações. O mercado exige adaptação, mas raramente investe em acessibilidade.

Fotografar reuniões, eventos e fazer coberturas exigem dele uma constante reafirmação de competência. Costuma brincar dizendo que “não cortou a cabeça de ninguém” nas fotos, como forma de descontrair e reafirmar sua capacidade técnica.

Esta é uma fotografia urbana feita durante o entardecer. A imagem mostra vários prédios altos, a maioria com fachadas escuras ou em tons acinzentados, dois deles ainda em construção ou inacabados. No entanto, entre essas construções escuras, há um prédio de fachada espelhada que se destaca intensamente. Esse edifício reflete diretamente os raios do sol poente, criando uma faixa vertical dourada e brilhante que parece uma coluna de fogo ou uma fenda luminosa entre os prédios sombreados. A luz é tão intensa que dá a impressão de que o próprio prédio está emitindo luz, como se estivesse aceso por dentro com uma chama dourada. Na parte inferior da imagem, há uma área com muitas árvores escuras, provavelmente um parque ou conjunto de copas, contrastando com o céu claro e os edifícios altos ao fundo.

Crédito: Teco Barbero
A foto mostra uma paisagem tranquila de natureza, tirada a partir de um deque de madeira à beira de um lago. O deque está no canto inferior direito da imagem e tem cobertura de palha em forma de guarda-sol, sugerindo um espaço de lazer. À frente, vê-se um lago ou rio de águas barrentas e paradas, de coloração marrom clara. A superfície da água reflete parte do céu nublado e algumas árvores. À esquerda e ao fundo, há uma densa mata com árvores de diversos tamanhos, incluindo palmeiras, criando um ambiente de mata ciliar bem preservada. O céu está parcialmente nublado, com nuvens brancas densas, mas algumas áreas ainda deixam entrever o azul do céu.

Crédito: Teco Barbero

O preconceito ainda é uma barreira. A aparência e a deficiência visual afastam profissionais da frente das câmeras. Para Teco, isso é um grande absurdo, pois competência não depende da visão, mas da sensibilidade, técnica e dedicação.

Em sua carreira, Teco também se dedica à formação de novos fotógrafos com deficiência visual. Criou o projeto Olhar Sensível, onde ensina fotografia de forma acessível, combinando técnica e arte. Muitos de seus alunos já participaram de exposições e se profissionalizaram.

Um marco foi quando uma obra de sua aluna Giovanna foi entregue ao tenor Andrea Bocelli. Foi um reconhecimento simbólico da potência do projeto e da capacidade transformadora da arte quando acessível a todos.

Além da fotografia, Teco ministra cursos, participa de eventos e promove inclusão por meio da imagem. Acredita que é possível transformar vidas e percepções com arte, empatia e acessibilidade verdadeira.

O jornalismo, para ele, deve acompanhar a evolução tecnológica e abraçar a diversidade. A inclusão não deve se limitar às rampas de acesso, mas envolver também o investimento em softwares, licenças e confiança na capacidade dos profissionais com deficiência.

A mensagem de Teco é de persistência e inspiração: acreditar em si mesmo, superar as barreiras e transformar limitações em possibilidades. Seu legado vai além das imagens: é um convite a enxergar o mundo com o coração, a alma e, sobretudo, com respeito às diferenças.

*Estudantes de Jornalismo, estagiárias do convênio entre a Marco Zero Conteúdo e a Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat).  O texto faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso dos estagiários, aprovado com nota 10. 

AUTOR
Foto Marco Zero Conteúdo
Marco Zero Conteúdo

É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.

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