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por Elismarcia Tosta, Josyclaudia Gomes e Wander Vieira*
Antônio Walter Barbero, conhecido como Teco Barbero, nasceu em Sorocaba, no interior de São Paulo, e desde o início enfrentou desafios que moldariam sua trajetória de forma singular. Com uma lesão cerebral grave ao nascer, desenvolveu baixa visão e dificuldades motoras, o que exigiu um processo educativo e terapêutico adaptado desde a infância.
Ainda criança, iniciou um método inovador de estimulação chamado Pedaços de Inteligência, com sessões rápidas em que era exposto a imagens variadas, como pássaros, máquinas e borboletas, ajudando a expandir seu vocabulário e percepção do mundo. Essa experiência foi essencial para estimular seus sentidos e memória visual.
Foi em uma clínica no Rio de Janeiro que Teco se submeteu ao método Lindoma, voltado ao desenvolvimento do potencial humano. O processo o ajudou a conquistar marcos importantes, como andar, diferenciar claro e escuro e manipular objetos de forma independente.
Durante os anos 1990, quando ainda não existiam políticas inclusivas efetivas nas escolas, Teco contou com o apoio incondicional da família para progredir nos estudos. Sem acesso a tecnologias modernas, foi com esforço coletivo que conseguiu transpor as barreiras impostas pela deficiência.
Seu interesse por idiomas sempre foi marcante: é fluente em italiano, espanhol e inglês, além de possuir conhecimento básico em francês e alemão. Inicialmente pensou em cursar tradução, mas como essa opção não estava disponível em Sorocaba, optou pelo jornalismo com o apoio de educadores.
Teco cursou Jornalismo na Universidade de Sorocaba (Uniso) entre 2001 e 2004. Embora algumas disciplinas como fotografia e telejornalismo gerassem dúvidas sobre sua execução, ele enfrentou os desafios com coragem, curiosidade e criatividade.
O divisor de águas foi o filme Janela da Alma, que apresenta histórias de pessoas com deficiência visual, entre elas o fotógrafo Evgen Bavcar. Inspirado, o fotógrafo Werinton Kermes criou um curso de fotografia para cegos e convidou Teco a participar, marcando o início de sua jornada fotográfica.
Inicialmente cético, Teco aceitou o convite por incentivo de uma amiga. Ali começou sua transformação em fotógrafo. O curso promovia o uso do corpo, da audição e da intuição para guiar a câmera e enquadrar imagens, criando uma estética própria e sensível.
Em 2009, iniciou oficialmente sua atuação na fotografia. Um de seus primeiros grandes desafios foi cobrir a Agrishow em Ribeirão Preto, evento com a presença do governador do estado. O ambiente dinâmico exigiu agilidade e adaptação para conseguir capturar imagens relevantes.
Outro momento marcante foi o ensaio com cinco paratletas para os Jogos Paralímpicos. Com criatividade e sensibilidade, fotografou momentos únicos, mesmo sem roteiro e com recursos limitados. Uma dessas fotos foi parar na revista IstoÉ, ganhando repercussão nacional.
No curso pioneiro de fotografia para pessoas com deficiência visual, Teco aprendeu a usar diferentes sentidos para criar imagens: ouvir, tocar e sentir o ambiente. Desenvolveu um método para entender proporções, distâncias e movimentos com extrema precisão.
A barreira tecnológica da época era grande. Câmeras com visores pequenos dificultavam a visualização. O primeiro impacto positivo foi com uma câmera Mavica digital, que lhe permitia enxergar imagens de longe. A acessibilidade digital foi, aos poucos, transformando suas possibilidades.
Apesar dos avanços tecnológicos, Teco destaca que o maior obstáculo ainda é mental. A desconfiança das empresas e o preconceito visual afastam profissionais com deficiência das redações. O mercado exige adaptação, mas raramente investe em acessibilidade.
Fotografar reuniões, eventos e fazer coberturas exigem dele uma constante reafirmação de competência. Costuma brincar dizendo que “não cortou a cabeça de ninguém” nas fotos, como forma de descontrair e reafirmar sua capacidade técnica.
O preconceito ainda é uma barreira. A aparência e a deficiência visual afastam profissionais da frente das câmeras. Para Teco, isso é um grande absurdo, pois competência não depende da visão, mas da sensibilidade, técnica e dedicação.
Em sua carreira, Teco também se dedica à formação de novos fotógrafos com deficiência visual. Criou o projeto Olhar Sensível, onde ensina fotografia de forma acessível, combinando técnica e arte. Muitos de seus alunos já participaram de exposições e se profissionalizaram.
Um marco foi quando uma obra de sua aluna Giovanna foi entregue ao tenor Andrea Bocelli. Foi um reconhecimento simbólico da potência do projeto e da capacidade transformadora da arte quando acessível a todos.
Além da fotografia, Teco ministra cursos, participa de eventos e promove inclusão por meio da imagem. Acredita que é possível transformar vidas e percepções com arte, empatia e acessibilidade verdadeira.
O jornalismo, para ele, deve acompanhar a evolução tecnológica e abraçar a diversidade. A inclusão não deve se limitar às rampas de acesso, mas envolver também o investimento em softwares, licenças e confiança na capacidade dos profissionais com deficiência.
A mensagem de Teco é de persistência e inspiração: acreditar em si mesmo, superar as barreiras e transformar limitações em possibilidades. Seu legado vai além das imagens: é um convite a enxergar o mundo com o coração, a alma e, sobretudo, com respeito às diferenças.
*Estudantes de Jornalismo, estagiárias do convênio entre a Marco Zero Conteúdo e a Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat). O texto faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso dos estagiários, aprovado com nota 10.
É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.